Ejé, Axorô, Menga... SANGUE
Ejé palavra da língua yoruba usada no candomblé que significa literalmente sangue. Refere-se principalmente ao sangue retirado dos animais imolados para os Orixás. O ejé animal é apenas um dos tipos de "sangue" utilizados nos rituais das religiões afro-brasileiras. Todo tipo de sangue é considerado vital para Axé. Dentre inúmeros temas polêmicos das religiões de origem africana, nenhum gera tanta controvérsia quanto à cerimônia de sacrifícios de animais.
Desde que o homem começou a adorar alguma divindade, o sacrifício ritual é utilizado como uma forma de aplacar a ira dos deuses ou mesmo agradecê-los por alguma graça recebida. Em todas as épocas e culturas, temos notícias e sinais de sacrifícios rituais, incluso onde as "oferendas" eram seres humanos.
Maias, Astecas, Incas, Romanos, Hebreus, os Povos Negros e até mesmo tribos indígenas das Américas do sul e do norte, praticavam a imolação ritualística. Nos dias atuais, algumas religiões ainda praticam o sacrifício de animais, como o Islamismo e os Cultos aos Orixás.
Nos Cultos de Nação, o Ejé Orixá (Ritual da Matança) é feito com várias finalidades e utilizando os mais diversos animais de duas ou quatro patas (galinhas, porcos, cabras, bodes, carneiros e até mesmo cachorros e caramujos).
Cada Orixá tem sua predileção por determinado animal, sendo que o "Ejé" (sangue) é derramado na cabeça do noviço (Yaô), com a finalidade de assentar a força (Axé) do Orixá. Os sacrifícios também são feitos como uma forma de obrigação ao Orixá, incluso Exu, oferendas para trabalhos diversos (prosperidade, saúde, quebra de demandas, etc.), enfim, para um número enorme de propósitos. É bem verdade que um ritual como esse deveria ser utilizado com máximo critério e em pouquíssimas ocasiões dentro dos terreiros, mas, o que vemos hoje em dia é uma prática constante e em muitos casos não há nenhum fundamento de caráter religioso. Nestes terreiros a cerimônia acabou transformando-se num importante aliados dos maus dirigentes de cultos que, abusando do impressionismo, vivem de iludir as pessoas com “trabalhos” milagrosos que na verdade não passam de verdadeiros engodos.
Para os africanos existem vários tipos de sangue. Os diversos tipos de sangue são essenciais na formação do AXÉ, que é uma força vital, em princípio básico, que, quando sabiamente manipulado, permite que as coisas aconteçam em virtude do seu poder reciclador. O AXÉ só pode ser preparado por pessoa feita na Lei do Santo, pois também ele, em algum momento de sua iniciação recebeu e aprendeu os fundamentos e os mistérios do AXÉ, que compreende a combinação perfeita das cores, a sincronia dos movimentos do corpo, os tipos e as quantidades de ingredientes utilizados, Dentre esses ingredientes, os sangues exercem uma importância muito grande pelo seu alto poder de concentração de energias. Ao contrário do que muitas vezes é anunciado por alguns veículos de comunicação, nenhuma nação de culto africano se utiliza de sangue humano em suas cerimônias. Portanto, as barbáries que muitas vezes são vistas, são cometidas por loucos e fanáticos que, em cerimônias macabras e de bruxismo, tentam se passar por sacerdotes e recebedores de “entidades poderosas”, que na verdade são verdadeiros embusteiros.
A utilização do sangue vermelho de origem animal deve ser restrita a situações muito especiais, cujos fundamentos da Nação assim o exigirem. Nesta hora, de extrema necessidade para criação do AXÉ, a essencialidade não deve ser confundida com quantidade. Costumamos dizer que, quando bem feito, o AXÉ pode ter apenas uma gota de sangue de origem animal que será equivalente a todo o sangue de um elefante! A essência está em quem faz, e não na quantidade dos ingredientes de que é feito o AXÉ.
Hoje, muitos dos trabalhos que são feitos com sangue animal, sem qualquer risco de insucessos, podem ser perfeitamente elaborados com outros tipos de sangue. Para isto é necessário que o Babalorixá ou Ialorixá conheçam perfeitamente o tipo de energia que deseja manipular ou reciclar. É também importante expandir os seus conhecimentos sobre as similaridades das fontes de energia de modo (como é o certo) restringir a utilização do sangue animal a momentos de extrema necessidade e de grande fundamento. NÃO SE DEVE USAR O SANGUE ANIMAL INDISCRIMINADAMENTE.
Para os integrantes do culto de nação a utilização do sangue animal tem uma explicação e uma razão de ser. Consideram o ar, a terra, o fogo e a água como sendo os elementos básicos da natureza. Da simbiose desses elementos surgiram os reinos mineral, vegetal e animal. De acordo com a finalidade do axé, precisaremos utilizar componentes desses reinos, de modo a alcançarmos as energias de seus campos vibratórios. Os sangues são elementos que estão contidos nesse universo, portanto, como os demais, passíveis de serem utilizados. Portanto, o sangue animal não deve ser encarado como única e principal fonte de ejé. Aliás, nesse caso específico do sangue animal, um cuidado especial deverá ser tomado quando de sua utilização. O executor do axé deve ter na consciência que para utilizar essa energia foi necessário o sacrifício de uma vida que, dentro do processo evolutivo, foi abruptamente interrompida sem que houvesse um encerramento normal do seu ciclo biológico e que sua utilização também não será feita para saciar outra necessidade biológica como a fome, por exemplo. Para que não haja interferência deste ato na realização e no objetivo do axé, é importante que sua utilidade seja essencialmente necessária e restrita a momentos considerados sagrados dentro do culto. Na dúvida, ou na falta de compreensão dos tipos de energias que estão sendo manipuladas, é melhor não usar o sangue animal, pois a energia reciclada quando mal preparada poderá retornar de forma tão violenta e de efeito tão contrário a quem a preparou que, dependendo do caso, poderá leva a males irreversíveis. O sangue vermelho de origem animal é mais um elemento, dentre muitos, que poderemos utilizar em nossos trabalhos. Desta forma, dado a complexidade de sua utilização, não devemos fazer dele uma regra, mas sim uma exceção.
Vamos nos reportar às origens africanas. O africano tinha o mais profundo respeito à natureza e ao orixá protetor de sua aldeia. Ao sacrificar um animal, jamais se fazia indiscriminadamente. Retiravam-se as partes portadoras de axé e distribuía até o ultimo pedaço aos membros de sua tribo.
Esse costume, originário do africanismo, veio para os terreiros ditos cruzados de Umbanda e vale lembrar que em UMBANDA não há qualquer tradição ou fundamento no que diz respeito ao uso do sacrifício animal e, portanto, o uso NÃO faz real sentido.
Hoje, nos terreiros, sacrifica-se sem critério algum. As carnes não são consumidas, nem distribuídas aos pobres e com isso inundam as encruzilhadas de corpos de animais.
Um ponto importantíssimo que não se pode deixar de lembrar é que quando utilizamos o sacrifício animal, estamos atraindo os mais variados espíritos do baixo astral. Esses espíritos absorvem as energias mais densas através do sangue. O sangue é matéria riquíssima em energias absorvidas dos alimentos e bebidas (química) e também do teor de nosso psiquismo, ou seja, tudo que ingerimos, pensamos e sentimos está em nosso sangue. Daí o motivo dele ser disputado por espíritos imperfeitos. Vale lembrar que muitos espíritos do baixo astral se “travestem” de exus exigindo incontáveis oferendas, bebidas e sacrifícios animais em troca de favores que vão desde matar, destruição de lares,inimigos, enriquecimento, etc.
A pergunta é: Orixás, seres incorpóreos, elevadíssimos, necessitam realmente de algo material, assim como as humanas criaturas, para "sobreviverem"?
Vamos supor que todos os adeptos da matança deixassem de oferecer sacrifícios aos Orixás, que nenhuma gota de sangue, seja de que animal for, fosse derramada para fins ritualísticos, de "axé". O que aconteceria? Deixariam de ser "Orixás"? "Morreriam"? Abandonariam ou castigariam seus filhos?
Um dos mais respeitados e sérios Baba'lawô (Pai do Segredo) do Brasil, Agenor Miranda, já dizia que a força do candomblé está no sangue verde das plantas e não no sangue vermelho dos animais.
Tipos de sangue
Sangue vermelho: (Ejé Pupo ou sangue Vermelho)
Reino animal: sangue dos animais, fluxo menstrual;
Reino vegetal: epô (azeite de dendê), ossùn (pó vermelho-Urucum), oyn (mel - sangue das flores), favas, vegetais, legumes, grãos, frutos (obi, orobô), raízes e sementes;
Reino mineral: cobre, bronze, otás (pedras), areia, barro, terra...
Sangue branco: (Ejé Funfun ou sangue branco)
Reino animal: sêmen, saliva, emí (hálito, sopro divino), plasma, (igbin - espécie de caracol), inan (velas);
Reino vegetal: favas, seiva, sumo, álcool, bebidas brancas extraídas das palmeiras, yiérosùn (pó claro, extraído do iròsún), ori (espécie de manteiga vegetal), vegetal, legumes, grãos, frutos, raízes e sementes;
Reino mineral: sal, giz, prata, chumbo, otás (pedras), areia, barro, terra.
Sangue preto: (Ejé Dudu ou sangue Preto)
Reino animal: cinzas de animais; ossos
Reino vegetal; sumo escuro de certas plantas, o ilú (extraído do índigo) waji (pó azul), carvão vegetal, favas, vegetais, legumes, grãos, frutos, raízes e sementes;
Reino mineral: carvão Mineral, ferro, osun, otás (pedras), areia, barro, terra.
Sangue verde: sangue de origem vegetal. É o sumo das folhas, plantas, raízes, sementes, ervas medicinais e favas.
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